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A Influência Decorrente do Uso Excessivo do Celular nos Cuidados com a Criança: Prejuízos e Consequências

Resumo

Nos últimos anos, o uso excessivo de dispositivos móveis, como celulares e tablets, tornou-se um fenômeno global, impactando diretamente o cotidiano das famílias e o comportamento dos cuidadores de crianças. A distração constante desses cuidadores causada pelo uso desses dispositivos tem gerado um distanciamento físico e emocional, o que pode comprometer a qualidade da interação com as crianças. Este artigo discute, com base em pesquisas científicas, os prejuízos potenciais que a ausência de atenção por parte dos cuidadores pode causar no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças.


1. Introdução

A tecnologia trouxe inúmeras facilidades, mas também introduziu novos desafios para o convívio familiar. Com o crescimento do uso de dispositivos móveis, tornou-se comum observar pais e cuidadores utilizando esses aparelhos na presença de crianças. Diversos estudos apontam que essa prática, conhecida como "tecnoferência", interfere na interação entre cuidadores e crianças, o que pode prejudicar o desenvolvimento infantil (Radesky et al., 2016).


2. A Importância da Presença Ativa dos Cuidadores

O desenvolvimento infantil depende, em grande parte, da qualidade das interações entre a criança e os cuidadores. Segundo a teoria do apego de John Bowlby, os primeiros anos de vida são críticos para estabelecer um vínculo seguro, que serve como base para o desenvolvimento emocional e social saudável (Bowlby, 1988). A presença ativa do cuidador é fundamental para fornecer suporte emocional e estímulo, essenciais para o desenvolvimento da autoestima e da confiança da criança.


3. O Uso Excessivo de Celular pelos Cuidadores e Seus Efeitos

A dependência de dispositivos móveis tem causado uma desconexão crescente entre cuidadores e crianças. Estudos indicam que a frequência e intensidade com que os cuidadores utilizam o celular podem reduzir as interações diretas com os filhos, prejudicando a qualidade do vínculo estabelecido (Radesky et al., 2015). Essa desconexão é particularmente prejudicial na primeira infância, fase em que a criança necessita de atenção e afeto contínuos para desenvolver habilidades sociais e emocionais.


3.1 Efeitos no Desenvolvimento Emocional e Social

A presença intermitente ou a distração do cuidador pode gerar insegurança na criança, resultando em comportamento ansioso e dificuldades de relacionamento no futuro. Crianças cujos cuidadores são frequentemente distraídos por dispositivos móveis demonstram maior propensão a desenvolver comportamentos negativos, como irritabilidade e agressividade (Abels & Martine, 2016). Além disso, essas crianças podem sentir-se negligenciadas, o que impacta negativamente seu bem-estar emocional e social.


3.2 Efeitos no Desenvolvimento Cognitivo

Além dos efeitos emocionais, a ausência de interação ativa dos cuidadores também compromete o desenvolvimento cognitivo. Crianças pequenas aprendem por meio da interação direta com o ambiente e com as pessoas ao seu redor. A falta de atenção dos pais pode resultar em menos oportunidades de estímulo cognitivo, comprometendo o desenvolvimento da linguagem e outras habilidades cognitivas (Madigan et al., 2019).


3.3 Interferência na Capacidade de Autorregulação

Crianças cujos cuidadores são frequentemente distraídos pelo celular podem apresentar dificuldades em aprender habilidades de autorregulação. Segundo estudos, o envolvimento dos cuidadores nas atividades das crianças promove o desenvolvimento dessas habilidades (Bernier et al., 2010). No entanto, a ausência de engajamento devido ao uso de dispositivos móveis compromete a capacidade da criança de lidar com frustrações e gerenciar emoções de maneira saudável.


4. Discussão

A dependência dos cuidadores em relação ao celular, e a consequente diminuição de interações ativas com a criança, é um problema crescente, com implicações significativas para o desenvolvimento infantil. É necessário que pais e cuidadores se conscientizem da importância de sua presença ativa e reduzam o tempo de uso de dispositivos móveis quando estão com seus filhos. Estratégias de educação parental podem ser adotadas para sensibilizar os cuidadores sobre o impacto do uso excessivo do celular e incentivar práticas de interação mais saudáveis.


5. Conclusão

O uso excessivo de celulares por cuidadores afeta negativamente o desenvolvimento emocional, social e cognitivo das crianças. É essencial promover uma maior conscientização sobre esses efeitos e incentivar uma presença ativa e engajada dos cuidadores na vida dos filhos. Estudos adicionais são necessários para aprofundar o entendimento sobre a "tecnoferência" e desenvolver estratégias eficazes que minimizem os impactos negativos dessa prática no ambiente familiar.


Referências

Abels, M., & Martine, D. (2016). "The impact of mobile device use on parent-child interactions". Journal of Family Studies, 22(3), 298-312.


Bernier, A., Carlson, S. M., & Whipple, N. (2010). "From external regulation to self-regulation: Early parenting precursors of young children's executive functioning". Child Development, 81(1), 326-339.


Bowlby, J. (1988). A Secure Base: Parent-Child Attachment and Healthy Human Development. London: Routledge.


Madigan, S., Browne, D., Racine, N., Mori, C., & Tough, S. (2019). "Association Between Screen Time and Children’s Performance on a Developmental Screening Test". JAMA Pediatrics, 173(3), 244-250.


Radesky, J. S., Kistin, C. J., Zuckerman, B., Nitzberg, K., Gross, J., Kaplan-Sanoff, M., & Silverstein, M. (2016). "Patterns of Mobile Device Use by Caregivers and Children During Meals in Fast Food Restaurants". Pediatrics, 133(4), 843-849.

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